Em 2019, 8.423 armas foram retiradas das mãos de criminosos no estado do Rio de Janeiro. No acumulado da década, 82.969 armas de fogo foram apreendidas, o que significa, aproximadamente, uma arma a cada hora. Se forem contabilizados os valores médios de comercialização de carabinas, espingardas, fuzis, metralhadoras, pistolas, revólveres e submetralhadoras, as apreensões desses tipos de armamento ultrapassam os R$ 23 milhões de prejuízo para as organizações criminosas em 2019.
Os dados, inéditos, estão no primeiro estudo da série “Textos para Discussão”, produzido pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), com base em número das secretarias de Estado de Polícia Militar e de Polícia Civil.
O relatório traz ainda informações nunca antes publicadas sobre as circunstâncias em que as apreensões ocorreram, fabricante e município em que foi registrado o boletim de ocorrência sobre o armamento. As análises constataram que os criminosos estão modificando seu modo de agir.
Em 2019, fuzis e pistolas figuraram na lista das quatro armas mais encontradas nas mãos dos criminosos. Das 8.423 apreendidas no ano passado, 3.784 eram pistolas (44,9%) e 550, fuzis (6,5%), o maior número deste tipo de armamento desde 2007. Isso pode indicar o aumento do poder de letalidade dos bandidos.
O uso de pistolas e fuzis implica em maiores quantidades de disparos realizados. No caso dos fuzis, há o agravante da distância em que um projétil pode alcançar mantendo a capacidade de letalidade. “Essa análise mostra que as organizações criminosas estão, cada vez mais, se especializando e adquirindo equipamentos poderosos para exercerem controle de territórios. A produção desses dados pode auxiliar o trabalho das polícias Militar e Civil, no sentido de que agora eles terão ainda mais informações sobre o tipo de armamento usado em todas as regiões do Rio de Janeiro”, disse a diretora-presidente do ISP, Marcela Ortiz.
DISTRIBUIÇÃO NO ESTADO – Na análise da distribuição no estado, foram escolhidos os quatro tipos de armas mais apreendidas em todo o estado em 2019 (pistola, revólver, espingarda e fuzil). O maior número de arrestos aconteceu no interior (3.202 ou 38% do total), onde se destaca a retirada de circulação de revólveres (1.360 ou 47,2% do total do estado) e espingardas (550 ou 75,4%). Na capital, os fuzis e pistolas foram os mais encontrados, com 338 e 1.378 apreensões, respectivamente.
Os municípios do Rio de Janeiro, São Gonçalo, Campos dos Goytacazes, Duque de Caxias, Niterói, Nova Iguaçu, Belford Roxo, Volta Redonda, São João de Meriti e Angra dos Reis formam a lista das dez localidades onde ocorreram mais confiscos de armamentos. Ao todo, foram apreendidas 5.349 armas nesses municípios (63,5% do total do estado).
DINÂMICA DA APREENSÃO – A análise dos dados permitiu ainda a identificação das circunstâncias em que as apreensões ocorreram. A morte por intervenção de agente do estado foi o contexto que mais gerou registros de ocorrência sobre embargo de armas de fogo (20,4%) em 2019. Entre os armamentos apreendidos, 1.181 eram pistolas e 256, fuzis (46,5% do total de fuzis apreendidos no estado). Isso significa que, aproximadamente, um terço das pistolas e metade dos fuzis retirados de circulação estava relacionado à morte por intervenção de agente do estado.
NACIONALIDADE DOS ARMAMENTOS – Do total de armas apreendidas em 2019, o ISP conseguiu identificar a fabricação de 8.397 (99,7%). Dessas, 4.922 eram estrangeiras (58,6%) e 3.475, nacionais (41,4%). O instituto destaca que as armas produzidas em território nacional são de menor poder de letalidade, como é o caso dos revólveres (62,6% do total). O número de série das armas possibilitou identificar os fabricantes de 77,7% (6.544) do total apreendido. Foram constatados 104 produtores diferentes.
Entre as dez empresas com maior incidência nos registros de ocorrência, a brasileira Taurus teve predominância, com 84,1% do que as polícias conseguiram tirar de circulação. A incidência de fabricantes estrangeiros também merece destaque no estudo. Os fuzis, por exemplo, são, em sua maioria, produzidos pela americana Colt.
ARTEFATOS EXPLOSIVOS – O estudo mostra ainda que, em 2019, foi registrado o maior número de apreensões de artefatos explosivos da série histórica do ISP (1.651), que teve início em 2012. Destes, 912 eram granadas, 550 bombas de fabricação caseira, 144 materiais explosivos, entre outros.
Entre 2012 e 2019, 9.355 artefatos explosivos foram retirados de circulação pelas forças policiais em todo o estado. Especialmente entre os anos de 2017 e 2019, houve um aumento das apreensões dos artefatos. No caso das granadas, passou de 531 confiscos em 2017 para 912 no ano passado, um aumento de mais de 70%.
No ranking dos dez municípios com maiores apreensões, a capital aparece em primeiro lugar. Ainda estão presentes as duas cidades da região da Grande Niterói (São Gonçalo e Niterói), três do interior (Angra dos Reis, Cabo Frio e Resende) e quatro da Baixada Fluminense (Duque de Caxias, Belford Roxo, Nova Iguaçu e São João de Meriti). Ao todo, foram apreendidos 1.456 artefatos explosivos nesses municípios (88,2% do total do estado).