O Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense vai fazer campanha para a volta do turno de 6 horas nas empresas da sua base. As tratativas a respeito do tema já foram iniciadas com a ArcelorMittal, onde o acordo atual da jornada de trabalho se encerra no final de outubro. O acordo firmado em 2021 na CSN vence no final de novembro – e ainda não houve reunião com a empresa a respeito.
As informações foram dadas pelo presidente do sindicato, Edimar Miguel Pereira Leite, em entrevista coletiva concedida na manhã desta quinta-feira (28), ao lado da sua diretoria. Ainda que as empresas ofereçam compensações financeiras em forma de abono para renovar o turno de 8 horas, a intenção do sindicato é tentar demonstrar aos trabalhadores os benefícios da jornada menor, tanto para eles quanto para a economia das cidades. E, neste sentido, vai buscar o apoio de outras instituições, como igrejas e outros sindicatos.
“O turno de 6 horas não causa diminuição de salário, mas proporciona mais tempo livre ao trabalhador, inclusive junto à sua família, e gera alguns milhares de empregos, que impactam na vida financeira de outras milhares de famílias, beneficiando também o comércio”, disse Edimar.
Ele deixou claro que as propostas das empresas para a manutenção das 8h serão levadas à categoria, mas antecipou a posição do sindicato: “ [O turno] saiu de 6 para 8h sem nenhum acréscimo de salário”, recordou Edimar, ressaltando que, no caso da CSN, por exemplo, houve a tentativa de implantar a medida também em Minas Gerais – que foi recusada maciçamente pelos empregados.
“O berço do turno de 6h é Volta Redonda”, frisou o sindicalista, ao lembrar que esta foi uma das reivindicações da categoria na greve de 1988 na Usina Presidente Vargas, marcada pela morte de três operários em confronto com militares.
Perdas – Edimar Leite apontou ainda que o sindicato quer demonstrar para a categoria que o turno de 8h, inclusive, aumenta o risco de acidentes de trabalho, citando os três casos fatais ocorridos este ano na CSN, em Volta Redonda. “Além do mais, o trabalhador perde em 13º, férias e aposentadoria”, enfatizou. “Qual é o valor de uma vida?”, questionou ao relacionar a jornada com a maior possibilidade de acidentes, acrescentando: “Tem muito trabalhador que visa [só] o dinheiro e não a qualidade de vida”.
Segundo ele, a ArcelorMittal já informou que quer renovar o acordo nos mesmo moldes do atual, mas o sindicato pediu um prazo para ouvir os funcionários. Explicou que, não havendo renovação, o turno automaticamente volta a ser de 6h.
O sindicato vai divulgar, através de boletins, redes sociais e da imprensa números para demonstrar, com números, as vantagens proporcionadas pela menor jornada. De antemão, ele estima que só na CSN, sem contar com as terceirizadas, seria possível gerar em torno de 1,5 mil novos empregos. “Os números vão surpreender”, apostou. Recuperação – Na coletiva, Edimar também disse que sua diretoria trabalha para reconquistar a confiança da categoria, citando o exemplo da CSN: “Na gestão anterior do sindicato, os trabalhadores perderam o turno de 6h, a PLR (Participação nos Lucros e Resultados) e o plano de saúde nacional”, criticou. “O sindicato ficou desacreditado e os trabalhadores precisam voltar a acreditar, se unir ao sindicato. Qualquer conquista é mais dos trabalhadores e, acima de tudo, da comunidade. Queremos ouvir e dar crédito à nossa categoria”, prosseguiu, depois de lembrar que, nos 10 meses de sua administração, nenhum acordo coletivo foi fechado com índices abaixo da inflação, destacando ainda o cartão-alimentação de R$ 1 mil conquistado na CSN.
Edimar falou na coletiva ao lado do vice-presidente Odair Mariano e dos diretores Maurino Faustino Neto (secretário de Saúde, Segurança do Trabalho e Previdenciário); José Marcos da Silva (secretário de Comunicação); Edson Barbosa (secretário Geral) e Alex Clemente (secretário de Finanças e Administração). A entrevista foi encerrada com um minuto de silêncio em homenagem ao jornalista José Roberto Mendonça, que faleceu no último dia 23, e também a trabalhadores que perderam a vida em acidentes de trabalho.