Há oito meses, a comerciante Alessandra Aparecida Paulino, mais conhecida como “Tia Chica”, está numa dolorosa jornada para provar que um corpo enterrado como indigente em Barra do Piraí é o de seu filho Johnatan Gilberto Paulino da Silva, de 34 anos. Dona de um restaurante no bairro Niterói, em Volta Redonda, ela responsabiliza o Instituto Médico Legal (IML) da cidade pelo fato e sofre com a espera, que já dura quatro meses, pelo resultado de um exame de DNA. A reportagem é do jornal Foco Regional.
Taxista, Johnatan desapareceu no dia 19 de dezembro do ano passado. Segundo a mãe, ele chegou em casa pouco depois das 2h da madrugada. Por volta das 5h ele já não mais se encontrava na residência, também no Niterói. Naquele mesmo dia, a família registrou o desaparecimento na delegacia de polícia de Volta Redonda.
Na antevéspera do Natal, um corpo apareceu boiando no Rio Paraíba do Sul, em Barra do Piraí. A mãe garante que, ao ver a foto em uma publicação, reconheceu Johnatan. “A única coisa que notei é que, na foto, ele estava com uma camisa preta, quando tinha chegado em casa com camisa rosa. Mas tive certeza que era o corpo do meu filho”, disse Tia Chica. “Não sei se ele se jogou ou foi jogado no rio”, acrescentou.
Incompatível – O cadáver foi removido para o IML de Volta Redonda, que fica em Três Poços. Lá, a família foi informada que as impressões digitais colhidas não são compatíveis com as de Johnatan. Um irmão do taxista pediu, mas não teve autorização para ver o corpo, já que, desde 2017, reconhecimentos de cadáveres no estado do Rio são feitos através de digitais, arcada dentária ou DNA, e não mais de forma presencial.
Doze dias depois, o corpo foi enterrado como indigente no cemitério de Vargem Alegre, distrito de Barra do Piraí. Segundo Tia Chica, isso ocorreu, pelo que foi dito à ela, pelo fato de o cadáver ter sido encontrado na cidade vizinha.
Desesperada, a mãe voltou ao IML três meses depois, após conversar com um bombeiro militar e conseguir uma foto do corpo resgatado no rio. Desta vez, ainda de acordo com Tia Chica, um funcionário cedeu e foram mostradas a ela as vestes e a pulseira que seriam de Johnatan.
Já o pai do taxista esteve em Barra do Piraí com um dos irmãos de Johnatan e, também de acordo com a mãe, tiveram acesso às fotos da perícia no dia da remoção do cadáver. “O pai passou mal. Ele e meu filho reconheceram o Johnatan”, acrescentou a mãe, revoltada com a situação.
Com a convicção de que o filho foi enterrado como indigente, ela luta para ter o direito de dar a ele um “sepultamento digno”.
– São oito meses de sofrimento. Só achei meu filho porque não desisti de provar que o corpo é dele. Já faz quatro meses que aguardamos o exame de DNA. Eles [IML] alegam que a demanda é muito grande, mas a incompetência também é. Acho que, no IML, se pudessem não falar com a gente, não falariam – prosseguiu a mãe em seu desabafo.
Contando com o apoio do Núcleo de Práticas Jurídicas da UFF (Universidade Federal Fluminense) de Volta Redonda, a mãe assegura que vai lutar até o fim para provar que o filho foi enterrado como indigente. “Espero que outras mães não passem pelo que estou passando, mas já sei de outros casos. Se a gente não expuser a nossa dor, como vamos conseguir ajuda?”.
O que diz a Polícia Civil – Ao site Foco Regional, a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Polícia Civil, à qual o IML está subordinado, respondeu que o procedimento no caso seguiu as normas do órgão. Não foi informado, como solicitado, se há previsão para a entrega à família de Johnatan do resultado do exame de DNA. No entanto, informações apuradas pelo jornal apontam com fontes ligadas ao Instituto de Pesquisa Perícias Genética Forense que o resultado deve ficar pronto em cerca de 60 dias.
A nota encaminhada ao jornal foi a seguinte: “Todo o procedimento foi realizado de acordo com as normativas do Instituto Médico Legal (IML), incluindo o sepultamento como não identificado. Como o corpo estava em estado de decomposição, não foi possível confirmar a identidade pelas técnicas iniciais, sendo necessário enviar uma amostra para confronto de perfil genético no Instituto de Pesquisa e Perícia em Genética Forense (IPPGF), juntamente com amostras coletadas de familiar do desaparecido. Atualmente, o material está sendo analisado, a fim de apurar a identidade”.
O que diz a direção do IML de Volta Redonda – Diretor do Instituto Médico Legal de Volta Redonda (IML), o médico legista Ricardo Barcellos afirmou, em entrevista ao Informa Cidade, que todo o procedimento foi feito cautelosamente com base nas informações das características passadas durante a confecção do registro de ocorrência na delegacia pela família. Segundo ele, além da impossibilidade de identificação pelas digitais e arcada dentária, no boletim de ocorrência, houve também uma divergência de informações prestadas relacionadas à altura, roupa e acessórios usados por Johnatan no dia em que desapareceu em comparação ao dia em que foi encontrado.