A data de 25 de maio no Brasil celebra o Dia Nacional da Adoção, criado para destacar a importância de oferecer lares amorosos e acolhedores para crianças e adolescentes que necessitam de uma família. É o caso da aluna Mariana Sardinha, de 27 anos, que, apesar da idade, vive a alegria da adolescência, devido à sua deficiência intelectual.
Estudante do Colégio Estadual Condessa do Rio Novo, em Três Rios, ela cursa a 2ª série do Ensino Médio na mesma escola onde seu pai e seus irmãos estudaram e ainda divide o turno com um deles. Além do apoio da família, que conta com dez filhos, Mariana tem ainda o incentivo dos colegas e profissionais da escola.
“Minha família é muito boa. Quando eu acordo de manhã eu já chamo meus irmãos pra irmos pra escola. Eu amo as aulas de Geografia e de Português e, hoje, eu tenho muitos amigos pra brincar e estudar. No meu aniversário fizeram até uma festa na sala”, conta Mariana com um sorriso radiante.
Por conta de sua condição clínica, ela não desenvolveu as habilidades de leitura e escrita. Apesar disso, a presença dela em sala de aula é certa. Seu jeito carinhoso e sorridente faz parte do dia a dia da escola. “Quando ela chegou achávamos que seria um desafio, mas ela se adaptou muito bem e foi abraçada por todos. Ela está sempre muito feliz e é participativa. É uma menina muito querida”, atesta a diretora da escola, Patrícia Rabello.
Para o pai, o técnico em meio ambiente e perito criminal João Sardinha, a escola é um ambiente familiar e que a filha adora ir às aulas. “A Mari chega em casa feliz, alegre, não se sente diminuída. Eles acolheram nossa filha e todos cuidam dela, diferente do que ela já viveu no passado. Eles são bem atenciosos e a tratam com muito respeito”.
Casado há 30 anos, pai de dez filhos prossegue dizendo que a adoção foi um presente para todos em casa. “Adotar a Mariana foi a melhor coisa que aconteceu na nossa família, foi algo programado por Deus. Fizemos cursos para entender a condição dela, o que nos fez compreender a deficiência de outros também. Com ajuda da escola e dos especialistas ela está se desenvolvendo e nos ensina muito. Adoção é a melhor coisa que existe. Sempre digo para não ficarem escolhendo a quem adotar. Tem muitas crianças esperando e Deus já separou alguém pra você”.
A mulher dele, a dona de casa Simone Pinto, conta que Mariana era muito assustada no início e demorou a chamá-la de mãe, mas que o amor foi crescendo cada dia mais. “Quando ela me chamou de mãe pela primeira vez foi incrível! Ela veio para nos ensinar que existem pessoas diferentes. O abraço dela, o cuidado em saber se estou bem, o zelo que ela tem com os irmãos, nada disso tem preço. Todos a amamos muito”.
Simone diz que Deus, amor, união, fé, coragem e perseverança são a chave para o sucesso, mas que precisou enfrentar o preconceito para seguir em frente.
— Já ouvimos coisas como “ela não é sua filha, não é sua responsabilidade, não é do seu sangue, não é da sua cor”. Bom, realmente ela não saiu de dentro de mim, mas ela mora no meu coração. A Mari tem até os nossos trejeitos. Independentemente da cor ou de qualquer outra coisa, ela é minha filha — completa, emocionada.
Como começou – Em 1998, quando conheceram Mariana, ela ainda não tinha completado 2 anos e sua condição de saúde era conhecida. Eles não imaginavam que ela passaria a fazer parte da família amorosa, composta, à época, pelos três primeiros filhos do casal. Eles disseram que encontraram Mariana e a mãe biológica em uma praça, e que a menina tinha vários ferimentos pelo corpo. Eles então levaram ambas ao médico, porém, a mãe biológica deixou o hospital escondida e, mesmo aparecendo tempos depois, ela e o pai decidiram deixar a menina aos cuidados de João e Simone. Na ocasião, o Conselho Tutelar e a Justiça acompanharam todo o processo. O juiz ofereceu a guarda da menina ao casal, uma vez que já havia sido estabelecido um vínculo entre eles e os genitores concordavam.
Após alguns meses de visitas das assistentes sociais e de audiências ao Fórum, a Justiça autorizou o registro de sobrenome e deu a guarda ao casal. Marina agora era oficialmente a quarta filha de uma família que ainda teria outros seis filhos nos próximos anos, e sua condição clínica seria conhecida, em breve, o que seria mais um capítulo de amor na vida da família Sardinha.
Inclusão na escola – Para dar suporte aos alunos com deficiência, a Secretaria estadual de Educação dispõe do Núcleo de Apoio Pedagógico Especial (Napes), um setor composto por professores com formação em Educação Especial, muitos também com especialização em psicopedagogia, como explica o superintendente de Educação Especial, Daniel Bove.
— Esses profissionais fazem uma avaliação pedagógica para identificar as necessidades deles e as adaptações que precisam ser feitas para que ele possa exercer seu direito à educação. Ou seja, queremos entender o que o aluno necessita para ter um ensino efetivo, quais são suas habilidades e onde ele vai precisar de apoio. Os serviços do Napes podem ser solicitados pelos responsáveis diretamente na direção das nossas escolas em todo o estado.
De acordo com o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), no Brasil, cerca de 30 mil crianças e adolescentes encontram-se abrigados. Destes, 4,5 mil já estão aptos para adoção e aguardam por um lar. No estado do Rio de Janeiro, o auxílio-adoção vem ajudando famílias a realizarem esse sonho.
Além do amor e do apoio emocional, é essencial reconhecer os desafios financeiros que podem surgir ao adotar uma criança. Nesse sentido, a secretaria lembra que todos servidores estaduais e estatutários, civis ou militares, têm direito a um auxílio-adoção para dar suporte financeiro para criação e cuidado da pessoa adotada.
Gerido pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, o benefício faz parte do programa “Um Lar para Mim”, estabelecido pela Lei Estadual nº 3.499/2000 e tem como objetivo incentivar a adoção tardia de crianças e adolescentes que se encontram em abrigos no estado do Rio de Janeiro.
Na Secretaria de Estado de Educação, 126 servidores já são pais adotivos e recebem o auxílio, como é o caso da professora Alessandra Ramos, que em 2017 adotou um casal de 12 e 13 anos, hoje com 18 e 19 anos.
“São meus diamantes que fui lapidando todos esses anos. O mais velho tirou habilitação, fala inglês e está cursando Letras no Instituto Federal Fluminense de Campos e a mais jovem já terminou a escola e vai iniciar a faculdade de Fisioterapia e a autoescola. O auxílio foi uma das coisas que mais me ajudaram nesses anos. Me sinto realizada ao olhar para eles e ver que estão realizados e são pessoas de caráter, conta Alessandra. (Foto: Secretaria estadual de Educação / Ellan Lustosa)