O Centro Histórico-Cultural Dauro Aragão, no campus Olezio Galotti, em Três Poços, recebeu, entre os dias 17 e 21 de março, a 1ª Semana de Celebração à Humanização e à Diversidade na Comunicação. O evento, idealizado pelo professor Edilberto Venturelli, da Escola de Comunicação, contou com o apoio dos coordenadores do curso de Jornalismo, professora Angélica Arieira, e da Escola de Comunicação, professor Douglas Gonçalves, além do Diretório Acadêmico e da Casa de Cultura do UniFOA.
A programação trouxe palestras e oficinas que abordaram questões fundamentais para a representatividade e a inclusão na comunicação. Entre os temas discutidos, estavam o “Dia do Povo Preto e Quilombola”, o “Povo Indígena”, o “Povo LGBTQIA+”, o “Poder Feminino” e o “Dia da Pessoa com Deficiência (PcD)”. Além disso, os estudantes do curso de Nutrição participaram com apresentações diárias de receitas típicas relacionadas a cada tema.
O primeiro dia do evento, segunda-feira (17), abordou a representatividade racial na comunicação e no ensino superior, com o tema “Resistência e comunicação: cotas na universidade e a representação do povo preto na mídia”. A mesa foi mediada por Júlia Lopes, estudante do 6º período de Publicidade, e contou com a participação de Pai Sid Soares (líder religioso e pai de santo), da publicitária egressa do UniFOA Priscila Pereira e da jornalista egressa Maju Freitas.
Pai Sid destacou a importância da diversidade na formação acadêmica: “Se a gente quer profissionais mais capacitados, que tenham uma mente mais inclusiva, que realmente dialoguem com o Brasil profundo, com a diversidade, é nesse espaço aqui da universidade que o debate começa.” A estudante Júlia Lopes também enfatizou o impacto da representatividade na sua trajetória: “Muitas vezes, eu não vejo uma pessoa preta nesse lugar (…), então é muita emoção me sentir capaz como uma profissional e ser, no futuro, um exemplo para outras pessoas”, disse a jovem ao comentar sobre o papel de liderança a ela oferecido pelo idealizador do projeto.
Na terça-feira (18), o tema “Sabedoria Ancestral e Preservação Cultural na Comunicação” trouxe à tona a valorização dos saberes indígenas. O debate contou com a presença do jornalista Lucas Motta, do educador ambiental Pedro Neves e dos indígenas Lino e Jéssica Gonçalves, que participaram por videoconferência de Angra dos Reis. Pedro Neves ressaltou a importância da diversidade de conhecimentos e a resistência dos povos originários: “Os indígenas estavam aqui antes dos europeus chegarem. Eles tinham sua organização, sua ciência, sua medicina, seus saberes e sobreviveram. Mas, com a chegada do ‘Jiruá’ (não indígena), passaram a ser minoria.”
A quarta-feira (19) foi dedicada ao debate sobre inclusão e desafios da comunidade LGBTQIA+ no mercado de trabalho, com a mesa “Diversidade na comunicação, visibilidade LGBTQIA+”. Participaram os jornalistas Giovani Rossini e Jeniffer Marcato, além do empresário e publicitário Davi Tedesco. Os convidados destacaram a dificuldade de se assumirem homossexuais perante a família, mas, principalmente, ante o mercado de trabalho, que ainda se encontra resistente à multiplicidade de orientações sexuais e de identidade de gêneros que se afastem da heteronormatividade.
Rossini acredita que, por parte das empresas, ainda há falhas na comunicação na hora de entender as necessidades de pessoas LGBTs: “Muitas vezes, a inclusão é apenas uma estratégia para atender requisitos legais, mas falta autenticidade. O que a comunidade quer? Não é um broche no dia do orgulho, uma festa ou um e-mail do RH. Queremos um ambiente acolhedor, onde possamos ser quem somos sem sofrer preconceito.”
Davi Tedesco complementou, reforçando que a autenticidade das políticas em prol da diversidade e a inclusão precisam ser naturalizada dentro das organizações: “Quando você começa a internalizar o conceito de políticas da diversidade, isso vai ficando mais fácil para as marcas, e aí isso é abraçado por todo o time, por toda a empresa, e vai refletir naturalmente na marca”.
Na quinta-feira (20), o evento trouxe o tema “Mulheres na Comunicação: Desafios e Conquistas”, com a participação da jornalista e influenciadora Mi Oliveira, da empresária Leidiane Rosa e da reitora do UniFOA, professora Ivanete Oliveira.
A violência contra a mulher na mídia e fora dela, o machismo enraizado no mercado de trabalho, a diferença salarial discrepante entre homens e mulheres e o preconceito racial vivido pela mulher negra na sociedade, ainda em 2025, deram coro às palavras das convidadas. O futuro da mulher na comunicação, no entanto, foi o imo da entrevista feita à influencer: “Eu enxergo um futuro muito diverso [com as redes sociais] e trazendo à tona tudo que foi invisibilizado durante muitos anos, como a jornada dupla, e isso vai trazer mais referências para as novas gerações de mulheres, vai colocar outras mulheres em posições de destaques”, comentou a influenciadora.
Sobre referências femininas em posições de destaque na sociedade, a professora Ivanete comentou que não sabe se é vista como uma inspiração para outras mulheres, reforçou a importância de acreditar no próprio potencial: “É possível alcançarmos na nossa vida, lugares muito mais altos do que a gente almeja. Eu, por exemplo, sempre tracei metas e objetivos para a minha vida. E eu vou atrás deles. A gente precisa pensar sempre no nosso potencial, naquilo que a gente pode fazer. Então se isso inspira outras mulheres, eu não sei, não faço com a intenção de inspirar outras mulheres. Mas se elas se inspiram, eu só agradeço”, destacou a reitora.
O encerramento da semana, na sexta-feira (21), coincidiu com o Dia Internacional da Síndrome de Down e abordou a inclusão de pessoas com deficiência. O debate contou com a participação da analista sênior de relacionamento com comunidades Brena Lacerda, do presidente da ONG Coopenea Thiago Lopes e da especialista em Libras Andrea Almeida. Pensar a acessibilidade dos espaços físicos e comunicacionais, o acolhimento de pessoas com deficiências no mercado de trabalho, além de trabalhar o poder de escuta do outro, foram as causas defendidas por Thiago, que ao se tornar cadeirante aos 20 anos de idade, viu-se num mundo defectivo: “Deficiente é o espaço! Se o espaço for eficiente, onde está a deficiência?”.
E refletir sobre a inclusão de PCDs vai muito além da adaptação dos lugares à cadeira de rodas, é preciso também considerar as deficiências ocultas, como o autismo e a surdez. Andrea Almeida defendeu a inclusão da Língua Brasileira de Sinais (Libras) no ensino básico: “A inclusão de Libras nas escolas não beneficia apenas a comunidade surda, mas toda a sociedade, pois promove a comunicação e a empatia”. A 1ª Semana de Celebração à Humanização e à Diversidade na Comunicação cumpriu seu papel ao promover diálogos essenciais sobre inclusão e representatividade com reflexões e debates essenciais sobre conscientização social, o evento contou com a participação ativa dos alunos da Escola de Comunicação, que enriqueceram as discussões com perguntas pertinentes e atuaram como mediadores dos debates. Diante do sucesso da iniciativa, o professor Douglas Gonçalves já confirmou a realização da segunda edição do evento em 2026.