O taxista Edynesio Quinp de Oliveira, de Volta Redonda, tem 54 anos de idade e quase 30 de profissão. Ele não tem em conta quantas vezes, em todo este tempo, percorreu a Via Dutra a serviço. Mas tem uma certeza: não foram poucas as ocasiões em que ficou horas parado na estrada em razão de acidentes, sobretudo no trecho de Piraí, que inclui a Serra das Araras.
Na quinta-feira (11), o motorista deveria estar às 19h30min no Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão) para pegar um passageiro vindo de Londres. Ele saiu de Volta Redonda com três horas e meia de antecedência, mas não chegou ao seu destino.
O taxista foi um dos que ficaram presos no congestionamento gerado pelo tombamento de uma carreta com carga superdimensionada no km 242 da pista sentido Rio, em Piraí. Quando conseguiu deixar o local, após as providências da concessionária para colocar um trecho em mão dupla, o relógio já marcava quase 23h30min.
“A carreta com o transformador estava a uns 2 km à minha frente. De repente o trânsito parou. Do jeito que ficou, não tinha como veículos grandes passarem”, conta Edynesio, que perdeu a corrida e o tempo que poderia estar fazendo outras. Detalhe: o passageiro que iria buscar é o mesmo que ele levou ao Rio no dia 6 de março e que ficou retido devido também a um acidente na Serra das Araras. “Ele perdeu o voo e cerca de R$ 6 mil para remarcar a viagem”, lembra o taxista.
Demora – Segundo ele, somente quase cinco horas depois de a carreta com o transformar quebrar a concessionária conseguiu colocar o trânsito em mão dupla para desafogar o congestionamento. “Eles tiveram que quebrar o muro que separa as pistas para abrir uma passagem. Acho que deveriam ter, a pelo menos a cada 3 km, um ponto de abertura para estes casos”.
Mesmo quando o trânsito com destino ao Rio passou a ser desviado para a pista sentido São Paulo, o taxista não foi liberado imediatamente. Isso porque a abertura foi feita antes do ponto em que ele se encontrava, à frente de várias carretas, caminhões e ônibus. “Aí, esses veículos todos tiveram que ir de ré para chegar até o desvio. Foram uns 20 veículos até que eu pudesse sair”.
Enquanto aguardava, Edynesio acompanhou o perrengue de outros usuários da rodovia, como uma mulher com uma criança de 6 anos, que começou a chorar porque estava com fome. “Ela estava a caminho de Itaguaí. Imagine, com uma criança, no escuro, sem água e comida”.
O taxista disse ainda que, na tentativa de sair do congestionamento e retornar, alguns motoristas decidiram se arriscar, mesmo à noite, por uma passagem subterrânea existente na Dutra, que sai no bairro Varjão, também em Piraí: “Até que um veículo ficou agarrado, porque é muito estreita a passagem, tem que recolher até os retrovisores”.
Nesta sexta-feira (12), o ministro dos Transportes, Renan Filho, marcou para a Dutra, em Paracambi, o ato de assinatura da ordem de serviço da duplicação da Serra das Araras. Uma providência que o taxista, assim como os milhares de usuários da rodovia, ouve falar há quase duas décadas. Por enquanto, ele não está otimista. “Acho que [a obra] pode sair, mas não para a nossa geração. A nossa só geração só deve ver ‘lá de cima’”. (Foto: PRF)