Falta de subsídios, excessos de gratuidades e redução de passageiros. Estes ingredientes estão se tornando a receita para um inevitável colapso no transporte coletivo em cidades da região. O alerta é do presidente do Sindpass (Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros), Paulo Afonso Paiva Arantes, ao condenar a forma como o cenário no setor vem sendo desconsiderada pelo poder público.
“Com a crise provocada pela pandemia do coronavírus, várias cidades no Brasil estão discutindo de forma mais ampla seus efeitos sobre a saúde e os serviços essenciais prestados à população, como o de transporte coletivo. Há municípios, porém, que estão tratando o tema como pauta secundária, apesar de ser um dos setores mais afetados pela crise”, disse.
Segundo ele, neste momento em que a pandemia chega atinge números altíssimos de infecções, há cidades ajudando a custear o transporte coletivo para garantir a continuidade da operação e também reduzir o nível de ocupação dos ônibus. Ações para garantir que não ocorra o esgotamento do sistema e compensem a falta da demanda já estão sendo feitas em várias cidades, afirma o empresário, citando exemplos de Blumenau (SC), Campina Grande (PB), Pouso Alegre (MG), Uberlândia (MG), Campinas (SP), Goiânia (GO), Botucatu (SP) e Taubaté (SP).
“Em Taubaté, por exemplo, sem que houvesse alteração na tarifa, a prefeitura triplicou o valor do subsídio pago para a operadora do transporte público de R$ 0,50 para R$ 1,50 por passageiro”, detalhou. Na região Sul do estado, destacou Paulo Afonso, somente Itatiaia e Porto Real ajudam a cobrir os custos do transporte coletivo: uma parte da tarifa é paga pelo passageiro e a outra pelo município.
“É urgente uma discussão ampla para tratar do tema. As empresas estão fazendo o necessário para se adaptar aos decretos e às necessidades do usuário, mas, sem subsídios, a situação está passando de uma crise para um colapso, nos aproximando da total impossibilidade de operar”, assegurou.
O cálculo tarifário realizado nos sistemas de transporte Brasil afora considera o número total de passageiros pagantes para se chegar ao valor da tarifa. Quando ocorre grande redução na quantidade desses passageiros, como está ocorrendo por conta da pandemia, o serviço fica sem sustentação.
“Todos os sistemas de transporte urbano, não só no Brasil, são projetados para transportar passageiros em pé, porém quando existe uma necessidade de reduzir a ocupação nos ônibus é preciso fazer uma compensação para que o serviço não entre em colapso”, explicou, lembrando que, desde o último mês de fevereiro, as empresas não estão conseguindo efetuar regularmente o pagamento dos salários de seus funcionários.