Um encontro na manhã de sábado (25) no Quilombo Santa Rita do Bracuí marcou um momento de celebração pela descoberta do navio escravagista Camargo, que naufragou nas águas de Angra dos Reis em 1852. A pesquisa coordenada pelos institutos Smithsonian, AfrOrigens e Slave Wrecks Project, representa um marco significativo na historiografia brasileira. O quilombo foi reconhecido por sua resistência e preservação cultural, recebeu os visitantes com uma calorosa recepção, destacando a importância de manter viva a memória e a luta dos antepassados.
“Muitas vezes as pessoas não conhecem a história que de fato aconteceu no quilombo. A prefeitura vai construir um Centro Cultural Quilombola e estamos reformando a Escola Aurea Pires da Gama, que atente 600 alunos e hoje conta com 80 alunos quilombolas. Manter viva a cultura e resistência do quilombo é importante para que isso não seja esquecido”, comentou o prefeito Fernando Jordão.
O evento contou com a presença de historiadores e arqueólogos, pesquisadores e mergulhadores que participaram das expedições e estudos do navio Camargo. O secretário do Instituto Smithsonian, Lonnie Bunch, que está no Brasil pela primeira vez fez questão de conhecer o local de perto e se encantou com a beleza e a cultura quilombola. “Estou muito feliz de estar aqui hoje. Sonhava com esse momento havia 20 anos. O naufrágio do Camargo não é apenas um achado arqueológico, mas um símbolo da resistência e da resiliência dos africanos escravizados. É uma oportunidade para recontarmos nossa história sob uma nova perspectiva, dando voz àqueles que foram silenciados”, ressaltou Bunch.
O encontro em Angra dos Reis destacou não apenas a importância de preservar o patrimônio histórico, mas também a necessidade de reconhecer e valorizar a herança cultural dos quilombolas. “A história do Camargo é a nossa história. Sou descendente dos quilombolas presentes, nossa missão é garantir que a história dos nossos antepassados nunca seja esquecida. Pude participar da expedição e dos mergulhos para encontrar o navio. Essa é nossa terra, o nosso chão e nossa ancestralidade. A história da escravidão não foi bonita, foi muita luta e sofrimento, mas com o resgate cultural também mostramos a resistência do nosso povo. Espero que no futuro todos possam ter essa oportunidade de conhecer mais sobre o navio que representa nosso povo e também conhecer e olhar com mais atenção para todos os quilombolas e as comunidades tradicionais”, ressaltou o educador.
História – O Camargo foi um navio roubado em 1851 na Califórnia, Estados Unidos, pelo capitão Nathaniel Gordon. Ele viajou até Moçambique, de onde zarpou com cerca de 500 africanos escravizados para o porto clandestino do Bracuí e afundou a embarcação em 1852, para evitar a prisão. O tráfico, naquela época, já estava proibido no Brasil. Em 1862, Gordon foi o único norte-americano enforcado nos Estados Unidos por participar do tráfico negreiro.
As buscas arqueológicas pelo navio começaram de forma sistemática em 2022, com a participação de mergulhadores pesquisadores, e avançaram com a descoberta recente de materiais que podem ser da embarcação. (Foto: Divulgação)