A Associação Filantrópica Nova Esperança, Organização Social (OS) que nos últimos tempos passou a administrar o Hospital São João Batista, em Volta Redonda, é comandada por Marcos Dias Pereira, irmão do Pastor Everaldo, presidente nacional do PSC, preso na sexta-feira (28) na Operação Tris in Idem, que também determinou o afastamento do cargo do governador Wilson Witzel (PSC-RJ).
A informação foi divulgada pelo Ministério Público Federal (MPF), que alegou que a OS é formalmente administrada por uma “laranja”: Cláudia Marta Pessanha de Souza. Ela tinha uma renda de R$ 500 mensais até 2008 e está recebendo auxílio emergencial emergencial no período de quarentena em razão da Covid-19. Ainda de acordo com o MPF, Marcos, irmão de Everaldo, também faria parte da organização criminosa que estaria agindo na saúde do estado do Rio.
Nos contratos de gestão hospitalar, firmados com Volta Redonda, o nome de Cláudia aparece inúmeras vezes. Apesar disso, até o momento, o nome da prefeitura da cidade não foi citado em nenhuma operação.
A OS Nova Esperança, que também administra o pronto-socorro do Complexo Penitenciário de Bangu, cresceu durante o governo Witzel.
No mês de julho, médicos do Hospital São João Batista ameaçaram demissão por alegarem falta de condições de trabalho. Desde a implantação do sistema de OS no hospital, parte do corpo clínico discorda das medidas adotadas. Na época, a prefeitura de Volta Redonda criou uma comissão pra acompanhar a relação entre a Organização Social e os médicos.
Na sexta-feira, a operação que prendeu Everaldo e outros membros do PSC, motivou a gravação de um vídeo pelo prefeito Samuca Silva (PSC-RJ), que citou a também prisão do ex-prefeito Gothardo Netto e escreveu em suas redes sociais: “Quando um político é preso significa que a vida das pessoas foi prejudicada. Isso nunca é bom. Mas foi justamente para mudar esse quadro que coloquei meu nome à disposição em 2016 e vou colocar agora novamente. Torço para que as investigações avancem e prendam todos os culpados. Como sempre, sigo trabalhando pela nossa cidade”.
O Informa Cidade fez contato com a secretaria de comunicação de Volta Redonda na manhã deste sábado (29), com o intuito de saber se a prefeitura intervirá no Hospital São João Batista após as alegações do MPF. Confira a nota abaixo:
A Secretaria Municipal de Saúde, em posse da denúncia feita pelo Ministério Público Federal, está analisando as medidas cabíveis a serem tomadas em relação ao contrato de gestão do Hospital São João Batista.
Vale destacar que na denúncia apresentada não há sequer uma citação em relação ao contrato com a Prefeitura de Volta Redonda.
A Organização Social foi contratada através de processo licitatório acompanhada por todos os órgãos competentes.
O contrato de gestão do Hospital São João Batista, de forma pioneira, é acompanhado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro através de sistema remoto no projeto ‘Bussola’.”
Pastor Everaldo
De acordo com o MPF, o grupo comandado pelo Pastor Everaldo Pereira, usou laranjas, imóveis, offshore e depósitos fracionados para lavar o dinheiro desviado de contratos do governo do Rio.
Além de Everaldo, seus dois filhos, Filipe Pereira e Laércio Pereira, também foram presos na Operação Tris in Idem.
Relatórios de inteligência financeira mostram R$ 884 mil em depósitos fracionados em dinheiro nas contas de duas empresas controladas por Everaldo e os filhos. As movimentações apontam para esquemas anteriores à chegada de Witzel ao poder.
Segundo a denúncia do MPF, Everaldo “realizou dezenas de depósitos em espécie, em valor fracionado, de modo a dissimular o total da movimentação, em atividade típica de lavagem de capitais”.
“A necessidade de encobrir os valores ilícitos recebidos levou os investigados a realizarem uma série de atos de lavagem de capitais, cujas transações financeiras foram detectadas pela Unidade de Inteligência Financeira (UIF, antigo COAF).”
Os documentos mostram que a EDP Corretora de Seguros, que tem o pastor e os filhos como sócios, recebeu 176 depósitos em espécie no valor total de R$ 741.739 entre 3 de junho de 2015 e 13 de maio de 2020.
Já a Laércio de Almeida Pereira Sociedade Individual de Advocacia, empresa individual de Laércio Pereira, registrou 37 depósitos em dinheiro, somando R$ 143.154, entre 2 de janeiro de 2017 e 18 de maio de 2020.
Imóveis
Os alertas da UIF revelam também que o Pastor Everaldo pagou R$ 2 milhões por um apartamento na Avenida Gláucio Gil, no Recreio, Zona Oeste do Rio, usando dinheiro vivo para quitar parte da operação.
Também mostram que o filho Felipe Pereira, que também era assessor de Witzel, comprou um imóvel por valor bem abaixo do mercado. Ele pagou R$ 401 mil por um apartamento na Rua Joaquim Cardoso, no Recreio, avaliado em R$ 1,2 milhão. E desembolsou R$ 35 mil em espécie.
Delação
Pastor Everaldo foi citado na delação premiada do ex-secretário de saúde, Edmar Santos, por conta da influência dele no Palácio Guanabara. O ex-secretário foi preso por corrupção. Segundo a delação, era o pastor Everaldo quem mandava na Saúde.
De acordo com documento que acompanha as diligências autorizadas pelo STJ, Everaldo seria líder de um dos grupos que compõem uma “sofisticada organização criminosa” que tem “o objetivo comum de desviar recursos públicos e realizar a lavagem de capitais, dentre outros crimes”.
O MPF afirma que o político comanda o segundo braço da organização “como se proprietário fosse, alguns setores da Administração Pública do Estado do Rio de Janeiro, principalmente sobre as contratações e orçamentos da Cedae, Detran e da pasta da saúde do Estado do Rio de Janeiro”.
Também integram o grupo do pastor Victor Hugo Amaral Cavalcante Barroso, operador financeiro, responsável por “efetuar contatos com agentes públicos e empresários, indica as empresas e organizações sociais que devem ser contratadas pela secretaria de Saúde do Rio de Janeiro”; e Edson Torres, que segundo Edmar Santos, é o dono de fato de empresas contratadas pelo Estado e foi o responsável por indicá-lo ao cargo de Secretário de Estado da Saúde do Rio de Janeiro para que pudesse exercer influência sobre a pasta.
Defesa
O pastor Everaldo Pereira disse que pediu na semana passada ao STJ para ser ouvido. E que foi surpreendido na sexta-feira (28) com sua prisão e com a busca e apreensão realizadas em seus endereços. Confira a nota enviada ontem:
“O Pastor Everaldo informa que, no dia 19 de agosto, encaminhou petição ao STJ solicitando para ser ouvido.
Na manhã desta sexta-feira, foi surpreendido com sua prisão e com a busca e apreensão realizadas em seus endereços.
Após ser preso, o Pastor Everaldo pediu para ser ouvido ainda hoje. O depoimento, no entanto, só deve acontecer na próxima segunda-feira, dia 31.
O Pastor Everaldo reitera sua confiança na Justiça.”
Já o advogado Marcos Crissiuma afirmou que “a prisão temporária que recai sobre os filhos do Pastor Everaldo é extremamente injusta e desnecessária”.
“A ordem se deu apenas para serem ouvidos, mas poderiam ter sido intimados que atenderiam à intimação e prestariam todos os esclarecimentos.”
Foto – Ilustração