O Delegado Regional do Cremerj, Conselho Regional de Medicina, Doutor Felipe Canavez, realizou uma nova inspeção no Hospital São João Batista, na quarta-feira (21) e recebeu de todas as clínicas o relato descrevendo a situação caótica enfrentada pelos pacientes que procuram o Hospital e não conseguem ser atendidos por falta dos insumos básicos.
O documento que o Informa Cidade teve acesso, faz um breve relato da situação do Hospital público de referência na região.
“No hospital São João Batista os profissionais trabalham em condições péssimas de assistência à saúde da população, com recursos escassos, insuficientes, inadequados ou até mesmo ausentes. Não estamos contando com o mínimo necessário para atendimento aos doentes, tanto os internados quanto os do Pronto Socorro, que necessitam de recursos em caráter de urgência/emergência. Muita coisa falta, desde aparelhagem, como respiradores adequados e em condições de funcionamento, até mesmo carro de anestesia no Centro Cirúrgico. Quanto aos medicamentos, uma série de remédios básicos para o tratamento mínimo das doenças está em falta, e até mesmo gesso para atendimento ortopédico de urgência.”
Um cirurgião relatou ao Informa Cidade que numa cirurgia de emergência teve que improvisar: faltou anestesia geral e o procedimento – que teve sucesso – foi realizado com anestesia local.
No setor de urologia, pacientes internados com cálculos da via urinária obstrutivos, correm risco de morrer, por falta de material de laser para as cirurgias de litíase urinária.
No relato enviado ao Cremerj o médico revela que o aparelho de Cistoscopia ambulatorial está em péssimas condições de uso, há muito tempo. Segundo o documento, o descontentamento atinge todos os setores do Hospital.
O Informa Cidade fez contato com a direção da O.S. Associação Filantrópica Nova Esperança, que respondeu os questionamentos com o seguinte texto:
“As informações referentes ao funcionamento do Hospital São João Batista devem ser solicitadas diretamente à Secretaria Municipal de Saúde, órgão competente para tratativa dos assuntos internos do referido nosocômio.”
A Secretaria de Comunicação da Prefeitura, no início da noite da quarta, enviou para a imprensa a informação sobre a nomeação do médico ortopedista e traumatologista Rodrigo Valério como novo diretor do Hospital São João Batista. Ele vai cuidar da transição da gestão do hospital com a passagem da Organização Social Associação Filantrópica Nova Esperança novamente para o poder público. Rodrigo tem mais de 20 anos de serviço no HSJB. Segundo a nota, a medida tem como objetivo garantir que o hospital – o maior da rede pública no Sul Fluminense – não fique desabastecido durante a transição, conforme denunciam os médicos, e volte a realizar cirurgias eletivas. O novo diretor anunciou que vai priorizar o atendimento da população e também garantir que os colegas tenham boas condições de trabalho. Para isso, será restabelecido o abastecimento do hospital, colocado em dia o pagamento dos funcionários e serão negociadas as dívidas que ficaram com os fornecedores.
A secretária municipal de Saúde, Flavia Lipke, garante que o processo de transição da administração do Hospital está sendo acompanhado.
Flávia confirmou que na terça-feira (20) houve uma reunião com a Defensoria Pública para pactuar as tratativas dos contratos com as O.Ss. responsáveis pela administração dos Hospitais São João Batista e Munir Rafull. Ela afirma que no momento não há prejuízo de assistência à saúde da população.
Numa nota dirigida à população, a equipe médica do Hospital São João Batista denuncia o descaso da O.S. que tem provocado o sucateamento da unidade. O problema se agravou em julho, quando os terceiros clínicos pediram demissão. Desde então os médicos afirmam que passaram a receber promessas que não são cumpridas, de mudanças e melhorias nas condições de trabalho. A nota acrescenta: “Na época o movimento recebeu apoio de todas as especialidades médicas e hoje a equipe trabalha às custas de promessas falsas de salários em dia e de reposição de insumos básicos para um bom serviço hospitalar. Os médicos denunciam que estão sendo ameaçados pela direção da OS de não receber salários do mês de setembro se não assinarem um contrato cheio de erros e com cláusulas faltando, com data retroativa a fevereiro de 2020.”
Novo episódio
Nesta quinta-feira (22), um novo capítulo na novela. O seguinte comunicado foi colocado no grupo dos médicos em um aplicativo de mensagens, dizendo que eles estão vivendo momentos insustentáveis. De acordo com o texto, a falta constante de materiais básicos como luvas e gazes, medicamentos, analgésicos, antihipertensivos, antibióticos, anestésicos, fios de sutura, lençóis e copos descartáveis, agravam o momento.
Ameaça de demissão em massa
O texto ainda diz o seguinte: “No dia 23/07/2020 os terceiros clínicos pediram demissão devido as péssimos condições de trabalho. Foi realizada uma reunião com a secretaria de saúde e direção do hospital, onde foram acordadas mudanças para reabastecimento do hospital e dar as condições mínimas de trabalho. Hoje, três meses após esse evento, as condições pioram a cada dia. As constantes e instáveis mudanças na administração do hospital entre Organização Social e a prefeitura, deixam toda a equipe de funcionários sem rumo e direção. Hoje trabalhamos no limite e sem pagamento, com a O.S condicionando o pagamento do mês de setembro a um contrato datado de fevereiro com inúmeras cláusulas questionáveis.”
E continua: “Nós médicos clínicos e terceiros clínicos do Pronto Socorro Adulto do HSJB, viemos entristecidos comunicar a nossa saída dos plantões do hospital a partir do dia 01/11/2020. Deixamos nossos plantões a disposição da coordenação.”
Ameaça de greve no Hospital do Retiro
A situação no Hospital do Retiro, apesar de bem melhor que no HSJB, também não é boa. Os salários da higienização estão atrasados, assim como dos médicos, que estão insatisfeitos. Profissionais que fizeram contato com o Informa Cidade, alegaram que uma paralisação parcial tem sido discutida.
De acordo com uma fonte do Informa Cidade, a prefeitura de Volta Redonda deve mais de R$ 2 milhões a unidade administrada pela Organização Social Mahatma Gandhi. Com isso, não foi possível fazer os pagamentos, inclusive dos fornecedores.
A Mahatma Gandhi, ao contrário do Associação Filantrópica Nova Esperança que presta serviços ao Hospital São João Batista, não tinha reclamações por parte dos funcionários até o mês de agosto.
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