O bispo da Diocese Barra do Piraí-Volta Redonda, dom Luiz Henrique da Silva Brito, emitiu nota nesta terça-feira (12) em apoio aos trabalhadores da CSN em Volta Redonda por melhores salários e outras reivindicações na campanha salarial deste ano. No documento (veja a íntegra ao final do texto), o religioso acentua que é justo os operários participarem daquilo que eles mesmos construíram [resultados]. Lembra ainda que, a igreja não condena o lucro, desde que seja partilhado por todos aqueles que ajudaram a gerá-lo, o que comumente se chama “participação nos lucros e resultados”.
Dom Luiz Henrique lamentou as demissões de um grupo de metalúrgicos, que classifica de “imorais e pecaminosas” se tiverem sido determinadas pelo fato de os dispensados estarem à frente da mobilização. Ele pede que os demitidos sejam reintegrados. O bispo fez também um apelo para que os dirigentes da companhia, de acordo com suas possibilidades e competências, contribuam para “corresponder às necessidades dois trabalhadores”.
Movimento – Na semana passada, um grupo de trabalhadores da siderúrgica iniciou um movimento paralelo ao do Sindicato dos Metalúrgicos, na campanha salarial deste ano. Desde então, vem ocorrendo paralisações no interior da Usina Presidente Vargas. O movimento vem sendo apoiando pela oposição sindical.
Diante do crescimento da adesão ao grupo paralelo, a CSN apresentou, ainda na semana passada, uma proposta de reajuste que foi rechaçada quase por unanimidade na última sexta-feira (8), em votação secreta na Praça Juarez Antunes. Na segunda, o sindicato – a CSN diz que, legalmente, só pode negociar com a instituição, acusada de peleguismo pela oposição – apresentou uma pauta de reivindicações, que voltará a ser discutida nesta quinta-feira (14) com a representação da siderúrgica.
Um dos pontos principais pede o INPC (Índice nacional de Preços ao Consumidor) acumulado dos últimos dois anos, período em que os metalúrgicos da CSN tiveram zero de aumento. Outro ponto é PPR (Programa de Participação nos Resultados) de 25%, mesmo percentual distribuídos aos acionistas, depois do lucro recorde do grupo CSN em 2021.
Também na segunda-feira, a CSN demitiu um grupo de trabalhadores. As dispensas geraram uma recomendação do Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro (MPT-RJ) para que a empresa reintegre os demitidos e não realize novas demissões. Nesta terça, segundo a oposição sindical, pelo menos outros três funcionários foram demitidos. O fato será comunicado ao MPT-RJ.
A íntegra da nota de Dom Luiz Henrique:
“O clamor dos trabalhadores chegou aos ouvidos do Senhor todo-poderoso” (Tg 5,4b)
Com preocupação humana e pastoral, tomei conhecimento da mobilização que se encontra em andamento entre numerosos trabalhadores da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Trata-se, dadas as informações recebidas, de uma legítima e necessária organização em vista da reivindicação de melhores salários, de participação nos lucros e rendimentos da empresa e ampla cobertura do plano de saúde.
Diante disso, faz-se necessário ressaltar, em conformidade com a Doutrina Social da Igreja, que não é lícito obter o lucro à custa da dignidade do trabalhador, da sua humilhação e da violação dos seus direitos.
As pautas acima mencionadas revelam-se, portanto, justas e dignas de apoio e solidariedade por parte daqueles que creem no Deus-amor e desejam que a sua vontade seja feita na terra, tal como é feita no céu.
De fato, “o trabalhador deve ser remunerado de tal modo que tenha a possibilidade de manter dignamente a sua vida e a dos seus, sob o aspecto material, social, cultural e espiritual, considerando-se a tarefa e a produção de cada um, assim como as condições da empresa e do bem comum” (Gaudium et spes, 67). O que significa dizer, que aos trabalhadores deve ser assegurada justa remuneração, que seja capaz de suprir as suas necessidades e as de sua família.
Além disso, os trabalhadores devem participar, de modo justo, daquilo que eles mesmos produziram. A Igreja, em sua Doutrina Social, não condena o lucro, desde que seja partilhado por todos aqueles que ajudaram a gerá-lo, o que comumente se chama “participação nos lucros e resultados”.
Lamento que um grupo de trabalhadores, ligados à organização da mobilização em questão, tenha sido sumariamente demitido. Pergunto-me se a demissão desses trabalhadores não esteja fundada no fato de que, justamente esses, estejam à frente da mobilização, o que tornaria essas demissões imorais e pecaminosas. Por isso, expresso vivamente o seguinte apelo: que aos trabalhadores demitidos seja devolvido o seu posto de trabalho, assegurando-lhes, assim, a dignidade e a paz de espírito.
Por fim, apelo à consciência dos que estão investidos de autoridade e aos dirigentes da CSN para que contribuam, conforme suas possibilidades e competências, no avanço das negociações, procurando, de modo preferencial, corresponder às necessidades dos trabalhadores.
Próximos das festas pascais, desejo ardentemente que a glória do Cristo ressuscitado brilhe sobre a vida de todos os que esperam ver realizadas as suas esperanças.
Dom Luiz Henrique da Silva Brito
Bispo Diocesano”