O biógrafo Tom Cardoso, no título do livro lançado em 2014, refere-se a Sócrates como o “jogador mais original do futebol brasileiro”, e concordo. Sócrates, este professor inspirado, este guia pelas vias do futebol, da medicina e da democracia, nos levou a um outro nível de engajamento social e político.
Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, o nosso Doutor Sócrates, nasceu na cidade de Belém, capital paraense, em 19 de fevereiro de 1954, sua origem, contudo, é de Mecejana, estado do Ceará. Ainda criança, Sócrates veio com a família para Ribeirão Preto, interior paulista, onde, o então torcedor do Santos, deu seus primeiros passos no mundo do futebol jogando nas categorias de base do Botafogo local.
Desde sempre considerado um fenômeno, já que treinava muito pouco, pois cursava, em paralelo à prática do futebol, a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP), Sócrates se viu em apuros com a chegada do treinador Jorge Vieira, em 1977, que sempre afirmava “jogador que não treina, não joga”. Em suma, Sócrates achou que sua trajetória chegara ao fim. No entanto, Vieira de bobo não tinha nada e logo de cara reconheceu o talento do Doutor, dando-lhe tratamento diferenciado. Naquele ano, Sócrates e Zé Mário, foram os destaques do time botafoguense na histórica conquista da Taça Cidade de São Paulo. O “Magrão” foi o artilheiro do campeonato naquele ano e a imprensa especializada pedia sua convocação para a seleção brasileira, mas isso não aconteceu. Em 1978, Sócrates vira uma página, deixa o Botafogo e começa a sua história com o Corinthians.
Chegando ao clube de Parque São Jorge e formado em medicina no ano anterior, Sócrates passou a se dedicar mais ao futebol. O meio-campista se firmaria no Corinthians em 1978, refazendo a dupla com Geraldão, seu ex-companheiro de Botafogo, contudo, outros dois atletas seriam, de fato, seus grandes companheiros na equipe corintiana, Palhinha e Casagrande.
Estreou pela seleção em 1979, jogando um amistoso contra o Paraguai. A partir de então, Sócrates não deixou mais a seleção, pelo menos não enquanto esteve apto a exercer sua atividade com maestria. A seleção convocada para a Copa do Mundo FIFA de 1982, é tida como uma das melhores formações já conseguidas, deixando muitos em dúvida se não seria superior à seleção de 1970.
Na década de 1980, o engajamento político de Sócrates fica ainda mais latente. No Corinthians, o Doutor é uma das lideranças da Democracia Corintiana, que reivindicava para os jogadores mais liberdade e mais influência nas decisões administrativas do clube. Em âmbito nacional, Sócrates é um dos porta-vozes do movimento Diretas Já, que levaria o Brasil à redemocratização.
O Doutor jogou a Copa de 1986, mas acabou marcado por ter desperdiçado um pênalti nas quartas de final contra a França, no empate de 1 a 1 que desclassificou o Brasil naquela ocasião. Antes de encerrar a carreira, em 1989, ainda atuaria no Santos e novamente no Botafogo de Ribeirão Preto.
Infelizmente, a vida do Doutor foi abreviada em 4 de dezembro de 2011, em decorrência de complicações advindas do uso crônico de álcool. Independente disso, o jogador e o cidadão foram exemplares. Sócrates, um Brasileiro.