O líder da Comunidade Quilombola São José da Serra, de Valença, Antônio Nascimento Fernandes, mais conhecido como “Toninho Canecão”, morreu na quinta-feira (10), aos 71 anos. Ele teve falência múltipla de órgãos, consequência de uma insuficiência renal.
Quilombo mais antigo do estado do Rio de Janeiro, São José da Serra fica a cerca de 15 quilômetros do distrito de Santa Isabel do Rio Preto e é nacionalmente conhecido pela Festa do Jongo, que, até antes da pandemia de Covid-19, costumava atrair cerca de três mil pessoas à localidade. Com cerca de 200 descendentes de escravos, o quilombo ocupa uma área de 476 hectares.
Os quilombolas vivem do cultivo de milho, batata, feijão e mandioca, entre outros e também fazem balaios de taquara e bonecas artesanais de palha de milho, palha de bananeira e bucha natural, vendidos em lojas de Conservatória, outro distrito, e de Valença.
Toninho Canecão teve uma participação destacada para manter a unidade do quilombo, o respeito com o negro e a sua cultura, como a tradição do jongo. “Hoje no quilombo, antes de ser batizada na igreja, a criança é batizada na roda de jongo”, disse ele em uma entrevista.
Foi compositor de jongos que se eternizaram, poeta, ativista e líder famoso do movimento negro e quilombola no país. Por anos teve que sair da comunidade para trabalhar na cidade grande para ajudar no sustento das suas famílias de parentes do quilombo que não tinham acesso ao mercado de trabalho. Se tornou por décadas arrimo de diversas famílias da comunidade quilombola.
Fundou em 2000 a Associação de Moradores do Quilombo São José, do qual foi presidente desde a fundação para melhorar a vida de seus parentes e para lutar pelas suas terras. Seu trabalho à frente dessa associação foi fundamental para o reconhecimento do jongo como patrimônio imaterial do Brasil pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
A morte de Toninho foi lamentada pelo procurador da República Julio José Araujo Junior. “Perdemos um grande líder. Toninho Canecão nos ensinou muito. A lutar, a caminhar, a dialogar, a sorrir. Tive o privilégio de conviver e aprender com este grande homem, que no alto da sua humildade dizia que havia aprendido comigo a lutar. É um dia muito triste para os quilombos, para a negritude, para o Brasil”, publicou o procurador em uma rede social.
Ele lembrou um episódio ocorrido em 2015, quando São José da Serra recebeu do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), a Concessão de Direito Real de Uso de seu território. Toninho, segundo ele, quebrou uma placa de alerta para que ninguém entrasse no quilombo sem autorização. “A partir de agora, esta placa não existe mais. Isso aqui é área de quilombo e área de quilombo é área livre”, disse ele, segundo Julio José. (Foto: Divulgação)