O terceiro suspeito de envolvimento no assassinato de Francisco Carlos Sciotta da Silva Júnior, o “Juninho”, de 34 anos, em 8 de dezembro do ano passado, no bairro Roma, em Volta Redonda, anunciou nas redes sociais que irá se entregar. Bismark Pereira de Souza postou que está em São Paulo e alegou não ter nenhum envolvimento com a morte de Juninho. Outras duas pessoas já foram presas pelo crime: a advogada, ex-companheira de Juninho, suspeita de ser a mentora intelectual do crime, e outro homem, suspeito de ser o autor do assassinato.
“Só peço oração para tudo ser esclarecido. Vou me entregar e não vou ficar correndo de uma coisa que não fiz. Deus conhece o meu coração e vai fazer justiça”, se defendeu Bismark, pedindo ainda a amigos que o conhecem a irem até a delegacia para dar uma força a ele. “Quem me conhece sabe que eu não teria a coragem de tirar a vida de ninguém”, disse. Biskmark ainda postou um vídeo se defendendo das acusações. Veja abaixo.
Os três tiveram a prisão preventiva decretada pelo juiz da 1ª Vara Criminal, Ludovico Couto Colacino. Um representante do OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Volta Redonda esteve na delegacia prestando assistência à advogada, como é de praxe. O delegado também confirmou, após a publicação desta reportagem, que Juninho – ele trabalhava consertando máquinas de lavar roupas – teria sido atraído ao Parque das Garças, onde foi emboscado por Bismark e pelo suspeito já preso. Edézio confirmou ainda que a advogada estava se relacionando com um deles, depois de terminar o relacionamento com a vítima.
Também pelo que foi apurado os dois homens suspeitos estiveram presos, no mesmo período, na Cadeia Pública de Volta Redonda. Juninho teria sido morto por ciúmes. Segundo uma fonte policial, a própria vítima chegou a comentar com parentes que foi ameaçada por um dos suspeitos, que não aceitava que ele falasse com a ex-companheira.
Em entrevista ao site FOCO REGIONAL, o suspeito jurou inocência, assegurando que ele e sua companheira, a advogada Leydiane Cristina Pereira, de 36 anos, não tinham motivos para praticar o crime. “Esta história de ciúme e dinheiro não existe”, disse ele por telefone à reportagem, com a qual entrou em contato por volta das 8h45min. Ao final da conversa, ele não se opôs a ligar a câmera do celular para comprovar que se tratava mesmo do suspeito procurado. Perguntado onde ele estava, ele respondeu apenas que se encontrava em São Paulo, “mas perto” de Volta Redonda.
Bismark teve a prisão preventiva decretada pela Justiça de Volta Redonda, assim como sua companheira, a primeira a ser presa. Segundo o delegado Edézio Ramos, ela teria sido a “mentora intelectual” do crime. No dia seguinte, a Polícia Civil prendeu, em Barra Mansa, Willian da Silva, que, também conforme o delegado, teria sido o executor do crime.
Bismark ficou preso cerca de três anos na Cadeia Pública de Volta Redonda, por tráfico de drogas. “Eu era gerente do tráfico na Vila Brasília”, admitiu, para em seguida garantir que, após deixar a prisão, resolveu mudar de vida. Ele vinha se dedicando a um projeto social de esporte com crianças e jura que deixou o tráfico. Quanto a Willian, que, segundo a polícia, esteve preso no mesmo período em que ele, o suspeito afirma poder tê-lo conhecido na prisão, mas alega que não se lembrar da pessoa: “Agora imagine se todo mundo que esteve preso no mesmo tempo que eu cometer um homicídio…Vão dizer que estou envolvido?”.
VERSÃO – Bismarck deixou a prisão em março de 2019 e, segundo ele, até janeiro deste ano, mês seguinte ao assassinato de Juninho, era monitorado com tornozeleira eletrônica. O equipamento, diz ele, é uma das provas que não esteve no Roma. “Também podem buscar imagens de câmeras de segurança para verem se eu saí de casa no dia do crime. Tenho testemunhas de que estava em casa. Eu e a minha mulher estávamos lavando a varanda quando ela recebeu um telefonema sobre a morte do Juninho e começou a chorar”.
Diz ainda o suspeito que, enquanto esteve envolvido com tráfico, não comparecia ao Roma porque fazia parte de uma facção rival da que domina o tráfico de drogas no bairro onde o técnico em refrigeração foi morto. “Até hoje eu evito ir a estes lugares [dominados por facção rival à que ele pertencia]”.
Bismark rebate ainda a afirmação da polícia que tinha ciúmes de Juninho, com quem Leydiane teve um filho. “Para mim, o ex-dela era um advogado, com quem ela se relacionava depois que se separou. Conheci a Leydiane quando ela passou a cuidar do meu processo e já estava separada do Juninho. Então, para mim, o ex-dela era o advogado, não ele. Também tenho um filho, que é amiguinho do filho dela. Eu sei que ele tinha medo de mim, mas nunca o ameacei, não havia motivo”.
Sobre a revelação da polícia que Leydiane recebeu R$ 16 mil de um seguro feito pelo técnico para o filho, Bismark rebate a acusação de motivação financeira alegando que sua mulher tem uma renda satisfatória. “Estão falando que também teria sido por dinheiro. Ela ganha mais de R$ 10 mil e ajudava o ex-sogro dela, comprando remédios para ele mesmo depois da morte filho. A família da minha mulher tem bens. Iria mandar matar o pai de seu filho por causa de R$ 16 mil?”, questionou. Em seguida, disse que a advogada teria se recusado a ficar com os dois carros da vítima, como teria proposto a ela a mãe de Juninho.
Bismark garante também que não havia brigas entre Leydiane e Juninho pela guarda do filho. Segundo ele, discussões ocorreram ao longo do processo de separação sobre a guarda e pensão, “muito normal nestes casos”. Conta, para exemplificar, que Leydiane tem no celular a conversa com Juninho, em que a vítima autorizou que o menino ficasse mais um dia com a mãe para que fosse levado ao aniversário da avó materna.
DEMISSÕES – Depois de contar que, duas semanas antes de ter a prisão decretada, depôs na delegacia de Volta Redonda e considerava “que estava resolvido”, Bismark disse por que decidiu se entregar: “Não vou ficar fugindo. Eu vou provar minha inocência. Já estive lá dentro [da cadeia], sei como me virar”.
No final, para assegurar que deixou o tráfico após sair da prisão, o suspeito disse que passou a trabalhar numa empresa que presta serviços à CSN. Garante que foi demitido, seis meses depois, por sua condição de ex-presidiário. Disse também que, três dias antes de ter a prisão decretada havia conseguido um novo emprego, numa obra. “Já sei que estou demitido”, afirmou.